O Impacto da Violência baseada em gênero

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Programa Parceiro MIFUMI (Uganda)

Ao trabalhar com mulheres e meninas que sofrem Violência Baseada em Gênero, não é incomum encontrar mulheres que negam ou tentam minimizar a gravidade de seus ferimentos. Meninas ou mulheres podem dizer, por exemplo, que "bateram contra uma parede no escuro", quando, na realidade, estão sendo espancadas. MIFUMI assumiu papel fundamental na sensibilização da comunidade em relação à violência contra mulher utilizando o Rádio. Elas destacam a importância de ser honesta sobre a violência já que a franqueza pode reduzir o estigma. Além disso, MIFUMI também desenvolve o projeto "Sure Start" (Começo Seguro, em português) que treina professores (as), pessoal médico e outros (as) líderes distritais - como agentes de liberdade condicional. Um exemplo é como identificar e resolver problemas de violência baseada em gênero mesmo quando a vítima está escondendo a realidade. O sucesso também tem sido garantido graças a rede de encaminhamento feita pela Child Actors Network do distrito de Tororo e centros de aconselhamento específicos para mulheres e meninas dirigidos por MIFUMI.  

Quando uma mulher experimenta a violência baseada em gênero, o impacto físico e emocional é longo e se infiltra em todas as esferas de sua vida. Sobreviventes de abuso sexual e estupro apresentam vários sintomas de trauma induzido que incluem distúrbios do sono e alimentares, depressão, sentimentos de raiva, humilhação e culpa; medo de sexo e dificuldade em se concentrar. 

Além do trauma emocional, a Violência Baseada em Gênero pode resultar em lesões físicas, contaminação por infecções sexualmente transmissíveis, incluindo HIV, interrupção da saúde sexual e de habilidades reprodutivas, gravidez indesejada e até mesmo a morte.

Para agravar ainda mais a situação pessoal já devastadora, a realidade é que este tipo de violência é na maioria das vezes envolta em segredo, proibindo mulheres e meninas de utilizarem recursos legais e médicos dos quais elas precisam para lidar com a situação. Sobreviventes de Violência Baseada em Gênero frequentemente sentem vergonha - um instinto de proteção da unidade familiar e lealdades conflitantes - o que torna difícil discutir o problema. Não é incomum que as mulheres sejam culpadas por seu próprio estupro e serem classificadas como aquelas que desonraram suas famílias. Além dos conflitos internos, em muitas regiões do mundo denunciar a violência sofrida pode levar a mais violência contra a própria vítima por policiais, funcionários e agressores. O medo de represálias inibe ainda mais mulheres em busca de ajuda jurídica, serviços médicos e de apoio psicológico, perpetuando um ciclo de destruição. Os assassinatos em defesa da honra também são bastante comuns. Em alguns países, a honra da família depende inteiramente do comportamento das mulheres.  

O Custo

Considere o impacto negativo que a Violência Baseada em Gênero tem sobre o indivíduo e sua família e multiplique-o por um bilhão. O resultado é catastrófico transversalmente em vários setores regionais e internacionais e um grande inibidor para o desenvolvimento global. Ao entrincheirar a energia das mulheres, sabotando sua confiança em si mesma e comprometendo sua saúde, a violência baseada em gênero priva a sociedade de uma participação plena das mulheres. Como a ONU Mulheres (antes UNIFEM) observa: "As mulheres não podem oferecer seu trabalho ou ideias criativas plenamente se estão sobrecarregadas de cicatrizes físicas e psicológicas causadas por abuso." 

Saúde Pública e Economia

Violência baseada em gênero representa custos significativos para economias de países em desenvolvimento e individuais, incluindo baixa produtividade, lucros mais baixos, taxas de acúmulo de capital humano e social menores e a geração de outras formas de violência, tanto agora como no futuro. A Violência Baseada em Gênero também coloca um peso excessivo na saúde pública. Mulheres que sofrem ou sofreram Violência Baseada em Gênero muito provavelmente terão maior necessidade de utilizar serviços de saúde que lidam com tratamento físico e emocional. Elas também estão mais expostas a passar por experiências de mortalidade materna, gravidez indesejada e estarão mais propensas a contrair doenças sexualmente transmissíveis, incluindo HIV/AIDS. Por causa de seu impacto no comportamento futuro em relação ao sexo e uso de drogas, o abuso sexual na infância também parece aumentar o risco de um indivíduo de contrair DSTs e HIV na idade adulta. 

O impacto econômico da violência baseada em gênero pode ser avaliado tanto em termos de dinheiro gasto em serviços ou quanto à diminuição da produtividade de mulheres e seus familiares afetados. Dinheiro gasto em serviços médicos, jurídicos e sociais é dinheiro que não está sendo gasto em outras áreas das economias nacionais como alimentação e educação, componentes críticos para a redução da pobreza. Perda de emprego, produtividade do agressor desperdiçada devido a encarceramento e perda de impostos fiscais devido à morte e encarceramento são alguns dos exemplos frequentes de como a Violência Baseada em Gênero impõe restrições às contribuições econômicas individuais.

Para as sobreviventes, o trauma psicológico e o dano físico resultam em consequências de longo prazo para a educação. Depressão aguda, estigma e isolamento muitas vezes têm um impacto negativo sobre o desempenho educacional ou fazem como que a menina que abandone a escola para sempre. No caso das comunidades e de violência estatal, a ameaça representada pela violência no espaço público pode levar a que pais ou responsáveis sejam menos inclinados a deixar suas meninas fazerem o trajeto até a escola.  

Footnotes: 

7 . Koss, M. (1990).The women's mental health research agenda: violence against women. American Psychologist, 45: 374-380 Retrieved from http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X1994000500009&script=sci_a...

8 . Koss, MP, The under-detection of rape: methodological choices influence incidence estimates, J. Soc. Issues, 1992, Vol. 48, p61-75

9 . Bunch, C. and Carrillo, R. (1992). Gender Violence: A Development and Human Rights Issue, Atti Press, Dublin.

10 . Retrieved from http://www.unfpa.org/webdav/site/global/shared/documents/publications/20...

11 . Bensley LS, Van Eenwyk J, Simmons KW, “Self-reported childhood sexual and physical abuse and adult HIV risk behaviours and heavy drinking”, Am J. Prev. Med. 2000, 18(2), 151-8. The report concluded that “one third to one half of those reporting HIV-risk behaviours in a general-population survey also reported childhood abuse”.

12 . Boyer & Fine, 1992; Zierler et al., 1991; Finkelhor, 1987; Cassese, 1993; Paone & Chavkin, 1993

13 . Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Costs of intimate partner violence against women in the United States. Atlanta (GA): CDC, National Center for Injury Prevention and Control; 2003. Retrieved from http://www.cdc.gov/violenceprevention/pdf/IPVBook-a.pdf